A história da ascensão do McDonald's. Após receber uma demanda sem
precedentes e notar uma movimentação de consumidores fora do normal, o
vendedor de Illinois Ray Kroc (Michael Keaton) adquire uma participação
nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice "Mac" McDonald
no sul da Califórnia e, pouco a pouco eliminando os dois da rede,
transforma a marca em um gigantesco império alimentício.
TITULO ORIGINAL: The Founder
ELENCO: Michael Keaton, Nick Offerman, John Carroll Lynch
GÊNERO: BIOGRAFIA
DURAÇÃO: 115m
A HISTÓRIA DO FUNDADOR DO McDonald's - FOME DE PODER DOWNLOAD FILME
A trajetória do
McDonald’s como empresa e símbolo cultural poderia ser contada por
diversas perspectivas: pelo olhar dos funcionários, dos consumidores,
pelas transformações no ramo alimentício, pela inovação de marketing
etc. Este filme opta pelo caminho histórico, acompanhando os passos de
uma pessoa muito particular: o grande vencedor deste processo, o homem
que ganhou mais dinheiro, que mais expandiu a empresa, o mais arrojado
em termos empresariais, que terminaria com as maiores conquistas
jurídicas e a mulher mais interessante ao seu lado.
Estamos falando não dos irmãos McDonald’s, reais criadores da marca, e sim de Raymond Kroc (Michael Keaton),
empreendedor que seu uniu à dupla e acabou tomando, por vias
inescrupulosas, o controle da empresa. Ele é visto pelo filme como uma
pessoa determinada, visionária, tão focada no sucesso que não hesita em
abrir mão de sua ética profissional e familiar quando necessário. Ray é
um messias do capitalismo, uma prova amarga dos valores ultra liberais
da “meritocracia” e do “self made man”. Este empresário possui uma
situação financeira estável, porém não se contenta em pertencer à classe
média: ele quer ser maior, mais poderoso, melhor que os outros. Afirma
que, se visse um concorrente se afogando, colocaria uma mangueira na sua
boca.
É curioso que John Lee Hancock aborde
os fatos pelo viés da fábula. As cores quentes e saturadas lembram um
ambiente agradável, a trilha sonora faz com que cada conquista do
protagonista soe como uma deliciosa aventura. O roteiro limita-se a
criar dificuldades para oferecer soluções: quando o protagonista não tem
mais oportunidades profissionais, encontra o McDonald’s. Quando não tem
lucros suficientes, encontra uma alternativa imobiliária para aumentar
os lucros. Quando a refrigeração das lojas lhe custa caro demais,
descobre a possibilidade de eliminar os congeladores. Quando sua esposa
lhe parece pouco interessante (triste e dispensável papel dado a Laura Dern), encontra outra.
As
atitudes do protagonista são vistas como pequenos compromissos com a
legalidade, uma divertida malandragem na qual o fim justifica os meios. A
direção não consegue deixar de admirar o empreendedor voraz por sua
persistência, seu senso dos negócios. Esse é o preço a pagar para ser um
capitalista de sucesso do mundo do dinheiro fast food.
Michael Keaton contribui à autocondescendência do projeto, tornando Ray
um sujeito carismático, dotado de uma retórica afiada e um sorriso
permanente nos lábios. Ele basicamente repete cacoetes que tinham
funcionado melhor em Birdman e Spotlight, por serem atribuídos a personagens mais complexos. Em Fome de Poder,
sua contribuição é a do puro cinismo, tornando as conquistas do
herdeiro ilegítimo da empresa uma prova de seu sucesso como indivíduo.
Talvez esse seja o maior problema do filme: ele fornece um discurso cínico, mas nunca crítico. Fome de Poder não
consegue se colocar no lugar dos irmãos McDonald’s, dos funcionários,
das esposas, das pessoas no ramo alimentício ou imobiliário. Pouco
importa se a comida é boa, se o modelo de negócios empregado foi humano
ou correto. O roteiro até consegue fazer uma demonstração potente da
marca McDonald’s como símbolo de estabelecimento familiar, de uma nova
Igreja: os restaurantes são filmados como locais de culto e objetos de
encantamento. Mas esta análise é abandonada em prol da demonstração da
ganância como espetáculo. Sim, Ray é um canalha, mas um canalha
agradável e bem-sucedido. Para o filme, isso basta.